Cabo Verde: Cristina Duarte criticou quem não acredita numa presidência feminina no BAD

28-05-2015

Em declarações à agência Inforpress em Abidjan, após conhecer os resultados que deram a vitória com mais de 59% dos votos (58% na votação global e 61% na votação dos membros regionais) ao nigeriano Akinwumi Adesina, Cristina Duarte disse que não foi pela qualidade da agenda ou falta de credibilidade do país que não ganhou a eleição para presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), mas porque variáveis de natureza geopolítica jogaram. «Parti pedra, abri o caminho e acredito que, mais cedo do que tarde, o BAD terá uma presidência feminina. Não será comigo, mas tê-lo-á», augurou. Na mesma ocasião Cristina Duarte felicitou o ministro da Agricultura da Nigéria, Akinwumi Adesina, pela vitória, dizendo que pode contar com ela. O director da campanha de Cristina Duarte, José Brito, disse por seu lado, que os resultados conseguidos pela candidata de Cabo Verde foram uma surpresa e que algumas expectativas não foram realizadas. José Brito declarou que, na primeira volta, quando Cabo Verde conseguiu posicionar-se atrás da Nigéria (25%) com 24,5%, pensava que haveria margem para progredir. «Na nossa estratégia, tínhamos esperado que os votos dos países da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) pudessem evoluir muito rapidamente para Cabo Verde, mas isso não aconteceu», explicou. Lembrou que a posição deste bloco foi manter o seu candidato do Zimbabué durante quatro rondas e que, após a saída deste, não transferiu o seu voto para Cabo Verde, que esperava apoio por parte de Angola e Moçambique. Explicou que a eleição ficou pela quinta ronda porque era preciso viabilizar o processo para não criar um impasse. «A Nigéria também é um país da CEDEAO e sempre dissemos que íamos facilitar para que um candidato da sub-região ganhasse», justificou. Cristina Duarte foi a única mulher, até hoje, a concorrer à presidência do BAD em 50 anos de existência e fê-lo juntamente com mais sete homens e José Brito não sabe até que ponto esse facto terá contribuído para a sua não eleição, dado que houve uma região cujos representantes afirmaram não estar preparados para ter uma mulher a governar a maior instituição financeira africana. O Primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, considerou que Cabo Verde teve uma grande ousadia em levar a candidatura de Cristina Duarte à presidência do Banco Africano de Desenvolvimento até ao fim, assegurando que os propósitos do país foram alcançados. «Já foi uma grande ousadia termos levado a candidatura até ao fim, os nossos propósitos de promover uma reflexão sobre as mudanças que deveriam ser introduzidas a nível do BAD, e sobre a utilização do BAD enquanto catalisador do processo de transformação do continente africano, foram atingidos», afirmou. Segundo o Chefe do Executivo, foi «globalmente positiva» a candidatura de Cabo Verde ao cargo de presidente do BAD, pela projecção da imagem do país e pelo aumento da influência do arquipélago no continente africano e no mundo, já que Cabo Verde queria apresentar as suas ideias e propostas, o que acabou por acontecer durante toda a campanha eleitoral. «Apesar de não ter ganho houve ganhos importantes para o país, já que durante a discussão propôs-se que Cabo Verde assumisse a vice-presidência do BAD, aumentando consideravelmente a sua influência em termos de quadros a nível da estrutura do banco», frisou, felicitando a Nigéria e a sua candidatura pela vitória. O Primeiro-ministro lembrou que nas cinco voltas eleitorais a candidata de Cabo Verde ficou sempre em segundo lugar, e que só a sexta votação é que Nigéria ganhou as eleições, facto que considera «extraordinário», lembrando que havia candidaturas do Magrebe, da África Austral, da África Oriental e a nível da África Ocidental, o que acabou por dispersar os votos nos principais momentos da votação. Depois destas eleições, José Maria Neves garantiu que a ministra das Finanças e do Planeamento, Cristina Duarte, vai continuar no Governo. Cristina Duarte ficou em terceira posição na corrida para a presidência do BAD, com 10,27% dos votos contra os cerca de 59% obtidos pela Nigéria obtido nas duas votações, tendo o Chade conseguido 31,5%. Akinwumi Adesina, actual ministro da Agricultura da Nigéria, torna-se, assim o oitavo presidente do BAD e, a partir de Setembro, vai ocupar o lugar de Donald Kaberuka que, nos últimos 10 anos, governou a instituição.

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